Uma
perspetiva subjetiva do (in)definível: a atração física e o amor.
Atração
física
A sociedade contemporânea valoriza o corpo de
modo ímpar, perpetrando através da publicidade um feixe de padrões estéticos e
de sedução, criando micro-Narcisos
que se contemplam como coisas trabalhadas, adornadas e delineadas. Assim se
explica a proliferação de ginásios do corpo (não seriam também necessários
ginásios da alma?), sendo que o ancestral ideal latino - mens sana in corpore sano - jamais se poderá considerar démodé sob
prejuízo de fragmentação da unidade psicossomática. Vem isto a propósito da atração física como patamar sensorial (o
quão estimulante é a audição, a visão, o cheiro, o paladar e o tato) que, em
meu entendimento, não se esgota em si mesma, valorizando exclusivamente a nossa
faceta de animalidade, a nossa dimensão primária que coloca o vulcão do desejo
em erupção, buscando à saciedade a satisfação instinto. Quando percecionamos a
alteridade sob o prisma hedonista, despido de intimidade psicoafectiva e
compromisso, significa que reduzimos a integralidade e mistério do outro a
parcelas do corpo, a caixilhos de estética – coisificamos o outro porque
endeusamos o prazer. Todavia, esta visão do outro como objeto sexual, numa
busca de satisfação imediata do prazer corporal não é em si mesma mera
negatividade, mas uma energia que carece de contextualização, de encaminhamento
para o encontro, de abertura para o outro, despoletando a construção de laços
ou de um lação que há de unir não somente o corpo mas toda a pessoa em (re)lação.
Desejar é bom, mas amar com desejo será o
patamar da sublimidade.
Amar
O desafio que se afigura no horizonte é
aliciante: amar é bom porque é difícil.
É ponto assente que nem tudo corre bem no amor, é preciso paciência, saber que
o amor é uma aprendizagem para toda a vida, uma tarefa inacabada, o amor
enquanto relação que une dois seres é o maior laço que a vida gerou, numa
sinergia entre ética e estética que enlaça as almas, albergando visceralmente
um no outro sem aniquilar idiossincrasias.
Conhecer o outro nos defeitos, entendê-los e
aceitá-los é uma exigência do amor. Saber que o diálogo, a confiança e o
entendimento são as rochas que sustêm o amor em momentos de tribulação. Saber
que por detrás dum grande amor há imperiosamente uma grande história de
partilha e conhecimento mútuo. Será possível amar o desconhecido?
Acredito firmemente que o amor é mais forte
que a morte. O amor é clemente, procura o bem do outro, quer bem ao outro, não
procura absorvê-lo em si, mas promovê-lo naquilo que cada um é. O amor é,
porventura, o abeirar da sensação de absoluto, de plenitude, irrompendo como
uma epifania que ilumina a escuridão da existência com a centelha do fogo que
abrasa o coração.
Amo-te é a palavra que diz tanto, como se
neste vocábulo fizéssemos fluir todo o caudal sentimental que nos inunda. O
amor é um milagre que raramente acontece, porquanto se o Eu e o Tu dão lugar a
um Nós, já não somos mais dois mas um só ser espiritual e carnal que se ama e
se une para além dos próprios limites que se conhecem de cor(ação)! Numa
expressão singela: amar seria o compromisso de doar a vida ao outro
incondicionalmente, em reciprocidade, complementaridade e oblação.
Será o amor a (im)possibilidade de nos
deleitarmos na perfeição?
NC
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