terça-feira, 15 de março de 2016

Uma perspetiva subjetiva do (in)definível: a atração física e o amor.

Atração física
A sociedade contemporânea valoriza o corpo de modo ímpar, perpetrando através da publicidade um feixe de padrões estéticos e de sedução, criando micro-Narcisos que se contemplam como coisas trabalhadas, adornadas e delineadas. Assim se explica a proliferação de ginásios do corpo (não seriam também necessários ginásios da alma?), sendo que o ancestral ideal latino - mens sana in corpore sano - jamais se poderá considerar démodé sob prejuízo de fragmentação da unidade psicossomática. Vem isto a propósito da atração física como patamar sensorial (o quão estimulante é a audição, a visão, o cheiro, o paladar e o tato) que, em meu entendimento, não se esgota em si mesma, valorizando exclusivamente a nossa faceta de animalidade, a nossa dimensão primária que coloca o vulcão do desejo em erupção, buscando à saciedade a satisfação instinto. Quando percecionamos a alteridade sob o prisma hedonista, despido de intimidade psicoafectiva e compromisso, significa que reduzimos a integralidade e mistério do outro a parcelas do corpo, a caixilhos de estética – coisificamos o outro porque endeusamos o prazer. Todavia, esta visão do outro como objeto sexual, numa busca de satisfação imediata do prazer corporal não é em si mesma mera negatividade, mas uma energia que carece de contextualização, de encaminhamento para o encontro, de abertura para o outro, despoletando a construção de laços ou de um lação que há de unir não somente o corpo mas toda a pessoa em (re)lação.
Desejar é bom, mas amar com desejo será o patamar da sublimidade.

Amar
O desafio que se afigura no horizonte é aliciante: amar é bom porque é difícil. É ponto assente que nem tudo corre bem no amor, é preciso paciência, saber que o amor é uma aprendizagem para toda a vida, uma tarefa inacabada, o amor enquanto relação que une dois seres é o maior laço que a vida gerou, numa sinergia entre ética e estética que enlaça as almas, albergando visceralmente um no outro sem aniquilar idiossincrasias.
Conhecer o outro nos defeitos, entendê-los e aceitá-los é uma exigência do amor. Saber que o diálogo, a confiança e o entendimento são as rochas que sustêm o amor em momentos de tribulação. Saber que por detrás dum grande amor há imperiosamente uma grande história de partilha e conhecimento mútuo. Será possível amar o desconhecido?
Acredito firmemente que o amor é mais forte que a morte. O amor é clemente, procura o bem do outro, quer bem ao outro, não procura absorvê-lo em si, mas promovê-lo naquilo que cada um é. O amor é, porventura, o abeirar da sensação de absoluto, de plenitude, irrompendo como uma epifania que ilumina a escuridão da existência com a centelha do fogo que abrasa o coração.
Amo-te é a palavra que diz tanto, como se neste vocábulo fizéssemos fluir todo o caudal sentimental que nos inunda. O amor é um milagre que raramente acontece, porquanto se o Eu e o Tu dão lugar a um Nós, já não somos mais dois mas um só ser espiritual e carnal que se ama e se une para além dos próprios limites que se conhecem de cor(ação)! Numa expressão singela: amar seria o compromisso de doar a vida ao outro incondicionalmente, em reciprocidade, complementaridade e oblação.

Será o amor a (im)possibilidade de nos deleitarmos na perfeição?

NC

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